A Cinderela empoderada do musical de Müller e Botelho

Dupla lança nova versão do conto de fadas, com heroína que luta por democracia

RIO — Sapatinho de cristal, vestido azul, uma abóbora que se transforma em carruagem. Todos os ícones estão presentes em “Cinderella”, musical de Rodgers & Hammerstein que estreou na sexta-feira no Teatro Bradesco. Mas quem espera ver apenas uma representação da princesa dos contos de fada será surpreendido. A versão dirigida pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho conta com o texto de Douglas Carter Beane, que reescreveu a história para a Broadway em 2013 e aproximou a personagem de novas heroínas de filmes infantis, como Valente, Mulan e Elza.
— A princesa é uma condição muito medieval da garota. Ela tem que estar à espera do príncipe no cavalo branco, tem que ser a mais bonita. Mas ser a mais bonita não enobrece ou dá caráter. O sapato de cristal e o vestido são apenas um passaporte para ela entrar no baile e dizer para o príncipe que o povo está sofrendo e que precisa ser ouvido — conta Möeller.
Empolgado por emendar espetáculos de alguns de seus ídolos do teatro musical — o trabalho anterior foi “Kiss me, Kate: o beijo da megera”, de Cole Porter —, o diretor revela que há “cinco ou seis” autores que são irrecusáveis, caso do de “Cinderella’’. Durante 39 dias, Möeller viveu e respirou a montagem, morando no hotel localizado no mesmo prédio do Teatro Alfa, em São Paulo, onde o musical cumpriu temporada até 5 de junho.

HARPISTA E TRILHA COM VALSAS
O que se vê em palco carioca é uma produção grandiosa, com uma orquestra de 16 músicos (incluindo uma harpista) e efeitos em 3D que fazem, por exemplo, com que o príncipe Topher derrote um enorme ogro em sua primeira cena.
— A gente realizou do jeito que queria, sem fazer concessões — diz o diretor, que também ressalta a qualidade das canções de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II: — Fazer “Cinderella”, que é sobre o badalar do tempo, com valsas, é muito sofisticado. É ótimo expor as crianças a esse tipo de canção, à sonoridade dessas valsas tão bem tocadas.

Totia Meireles, em sua quinta parceria com Möeller e Botelho, se diverte como a fútil (e elegante) madrasta, construída com inspiração nas vilãs da Disney e impulsionada pelos figurinos (“os mais bonitos”).

— Já passou a minha fase de princesa. Então, já que não posso ser a princesa, vou ser a má — brinca a atriz.

Para a atriz Bianca Tadelli, que vive a protagonista, a mudança no perfil de Cinderela foi bem-vinda:

— É um exemplo bom para as meninas. Mostra que você pode ser doce e frágil em alguns momentos, mas ser forte e correr atrás de seus ideais. E pode até ter uma fada madrinha, mas precisa fazer alguma coisa, em vez de ficar esperando acontecer.

O príncipe, por sua vez, continua sendo encantado. Porém, sua principal batalha é bem mais atual: descobrir que tipo de pessoa (e rei) quer ser.

— Não é o príncipe que salva a princesa: os dois se salvam de suas angústias quando se encontram — ressalta o ator Bruno Narchi, intérprete de Topher.



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