Entrevista: Totia Meirelles diz que ter cara do bem restringe papeis de vilã

Atriz diz que agora as pessoas a olham de outra maneira


Totia Meirelles se perde no tempo ao falar de Wanda, sua personagem em Salve Jorge. Não é para menos. Com quase 30 trabalhos na tevê, esta é a primeira vez que a atriz tem um destaque relevante em uma trama. Ainda por cima na pele de uma vilã inescrupulosa, perfil que nunca havia encarnado antes.

"Acho que agora vão me enxergar de uma forma diferente. Espero que se abra o leque para outros personagens", torce.



O convite para a vilã partiu da própria Glória Perez. A autora - que já trabalhou com Totia em Caminho das Índias, Amazônia – De Galvez a Chico Mendes, América e O Clone – avisou que daria a primeira malvada da carreira da atriz.




Nunca me chamaram para fazer uma vilã antes. Acho que eu tenho um sorriso muito aberto, todo mundo olha para mim e vê uma pessoa do bem, feliz", justifica.



Nas ruas, o que Totia mais escuta são elogios sobre seu trabalho. E garante que as pessoas não a confundem com sua personagem.



"No primeiro impacto, quando me veem, dão os parabéns. Isso é legal, estão vendo um trabalho", comemora.



Mas a atriz não vai na onda dos elogios, pois costuma ser muito autocrítica. Todos os dias assiste à novela e grava os capítulos. Várias vezes costuma rever alguma cena cujo resultado não a deixou satisfeita.



"Fico tão nervosa na hora em que estou me vendo, que não consigo acompanhar a cena. Fico pensando: 'por que ela fez esse olho? Por que fez essa mão? Está meio corcunda...'", descreve, aos risos.



Mas uma sequência específica agradou bastante Totia. Quando Morena, protagonista de Nanda Costa, descobre que foi levada para a Turquia para se prostituir e dá uma surra em Wanda. Depois de apanhar, a vilã se levanta e aponta uma arma para a jovem. A gravação da cena durou cerca de quatro horas. As atrizes saíram do estúdio esgotadas e, no fim de tudo, caíram no choro.



"Ficamos exaustas e felizes ao mesmo tempo, porque achamos que tinha sido bacana. Aí, com o relaxamento, veio um choro, uma alegria, tudo misturado", explica.



Assim como todo o elenco de Salve Jorge, Totia participou de um intenso workshop antes do início das gravações. Ao conhecer famílias de mulheres traficadas e algumas meninas que conseguiram voltar para casa, a atriz ficou abalada. Principalmente por saber que sua personagem seria a responsável por aliciar moças na trama.



"Vi o sofrimento daquelas pessoas. Vi também um depoimento de uma mãe depois de 13 anos que a filha já tinha sido morta. Ainda era muito sofrimento", recorda ela, que foi se surpreendendo com seu papel ao longo dos capítulos.



"A frieza da Wanda me amedrontou. E é uma frieza que veio no texto, não foi algo que eu planejei. O texto pedia, eu ia fazendo", conta.



Com cerca de 25 anos de carreira na tevê, Totia demorou a aceitar que era atriz. O que ela, com formação em balé clássico, planejava era abrir sua própria academia de dança. Mas, no meio do caminho, surgiu a oportunidade de integrar o elenco do musical Chorus Line, que acabou servindo de ponte para sua entrada na televisão. Depois, foi convidada para o programa de Chico Anysio e, em 1989, atuou em sua primeira novela, Que Rei Sou Eu?. O que, a princípio, seria apenas uma participação, virou uma personagem que ficou até o fim da trama.

"Foi ali que pensei: 'acho que isso é bacana'", recorda.

De lá para cá, atuou na Escolinha do Professor Raimundo, em 1994, Suave Veneno, em 1999, Cobras e Lagartos, em 2006, e Fina Estampa, em 2011, entre várias outras produções. Sempre com papéis secundários e de mulheres do tipo "a amiga gente fina da protagonista". Mas o tamanho da personagem que interpreta dentro de uma trama é relativo para Totia.

"Acho que, hoje em dia, há tantas possibilidades que é difícil a gente não aceitar alguma coisa porque é pequeno. Você pode virar o jogo", acredita.

Satisfeita com o momento atual, a atriz tem trabalhado como nunca. Até porque seu papel em Salve Jorge transita por vários cenários do folhetim.

"Novela, quando você grava muito, grava três vezes por semana. Mas estou amando, quero mais é trabalhar", assegura.

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